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segunda-feira, 11 de abril de 2011

O CANTOR E COMPOSITOR LOBÃO DIZ QUE BRASILEIRO É ENSINADO A SER 'CANALHA


Músico e agitador cultural, Lobão abriu, ao lado do jornalista, escritor e tradutor Eduardo "Peninha" Bueno, as atividades do 24º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, na noite desta segunda-feira. Convidado para falar sobre Liberdade individual: a arte de construir a sua própria história, Lobão criticou a falta de liberdade do povo brasileiro para ter opinião e para ser autocrítico. Para ele, o brasileiro é ensinado a ser "canalha", a não ser sincero e honesto com os outros e consigo mesmo, a ser subserviente. "No Brasil, se você tem uma opinião contrária você é ejetado da discussão. Além disso, as pessoas sempre levam o debate para o lado pessoal", disse Lobão no painel que começou com quase 30 minutos de atraso. A educação, para Lobão, tem um papel fundamental neste modus operandi "bovino" do povo brasileiro, que tem "uma baixa estima revestida de euforia carnavalesca".
"A educação brasileira é terrível, é amedrontadora", disse Lobão, que ressaltou que o povo não é ensinado a se expressar. "Eu convivo com jovens e o que eu vejo é uma infantilização cada vez maior, eles não tem condições de se expressar livremente e nem de articular suas próprias opiniões. No Brasil, quem é polêmico é tachado de violento, é caricaturado, vira personagem. Aqui, você só pode existir se não for você. Povo que não tem autonomia intelectual não pode clamar por liberdade de expressão, lutar por sua opinião e conviver com opiniões distintas". Músico, Lobão exemplificou o que chamou de cultura do povo brasileiro com a música popular brasileira, que mesmo quando é de protesto é acanhada, suave. "MPB tem que ser brocha", disparou, para logo completar que o "brasileiro não teve guerra, nunca lutou em uma guerra, por isso não tem tônus".
Ainda sobre o papel da educação, Lobão disse que no Brasil as pessoas não são ensinadas a ser empreendedoras, a ter iniciativa, que o mérito é visto como algo ruim, e que o certo mesmo são "as panelinhas". "Esse ministro aí de Minas e Energia Edison Lobão, meu homônimo, o cara entende menos do que eu de Minas e de Energia. Mas então por que ele tá lá? Porque ele é amigo, do amigo, do amigo. Se fosse eu, pegava um técnico, olhava o currículo e daí ah, você entende disso, então você está qualificado", exemplificou.
No mesmo sentido, o jornalista e escritor Eduardo "Peninha" Bueno, conhecido pela tradução de On the Road, de Jack Kerouac, também se mostrou bastante preocupado com a educação no Brasil e disse que tinha tudo para ter sido um "vagabundo", mas que o livro, a palavra escrita, o transformou: "eu me inventei". Com opiniões que foram na mesma direção das ideias de Lobão, Peninha afirmou que o Brasil tem de si uma autoimagem que não corresponde, que se acha sexualmente libertário, por exemplo, mas que é extremamente conservador. "O brasileiro tem uma baixa estima por termos sido colonizados por Portugal. Preferia que fosse por franceses, ingleses, holandeses... Tem coisa mais colonizada do que isso? É claro que teve coisas ruins, mas teve também coisas boas, não somos qualquer chinelagem", afirmou, citando inúmeros rankings econômicos em que o Brasil ocupa as primeiras posições.
Autor de livros como A viagem do descobrimento, Náufragos, traficantes e degredados, Capitães do Brasil, Peninha disse que buscou, através da escrita, libertar a História do ranço ideológico, para que ela fosse menos catedrática e mais como ela é de fato, viva.
Internet e cultura: Sobre a internet e o poder da liberdade de expressão através das redes, Peninha se mostrou bastante entusiasmado, mas disse que não sabe como usá-la, e que nesse sentido não é "moderninho" como muitos imaginam. Por sua vez, Lobão disse que as pessoas exageram quando falam da internet, que pelo menos no meio artístico, ela não tem e nem terá um papel de protagonista, pois a indústria do entretenimento funciona de outra forma e que um artista ainda precisa do rádio e da televisão para se firmar. "Eu acredito que a internet é importante, mas ela tem um papel coadjuvante e sempre terá. Um artista precisa tocar na rádio, ir no Faustão. A internet acaba criando um gueto. O artista que quer que sua música seja escutada de verdade por muitas pessoas precisa atacar o mainstream".
Ao falar das ações do Ministério da Cultura, não apenas no governo Dilma Rousseff, mas de todos os governos anteriores, Lobão disse que o que existe no Brasil é uma "política cultural assistencialista". "Em outros países, nem existe isso de Ministério da Cultura. No Brasil, o Ministério da Cultura é um balcão de negócios. No meu entendimento, uma Lei Rouanet deveria custear atividades de artistas revolucionários, tão excêntricos que não são compreendidos pelo chamado mainstream, que vivem à margem, e não o contrário", afirmou.Fonte: Itans.com. Postado aquí por Jéssica Dantas-RN.

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